Bruno Maletta assina com Andiara Petterle o livro “Poderosas consumidoras: o que quer e que pensa a nova mulher brasileira”, lançado no mês de outubro. Através de pesquisas em todo o país, o volume mostra as mudanças vivenciadas pelas mulheres brasileiras. Destaca ainda que elas são responsáveis por movimentar 66% da economia – e que não estão satisfeitas pela maneira com que vêm sendo tratadas pelas empresas brasileiras. Acompanhe abaixo entrevista com Bruno Maletta.
O livro é apontado como um dos maiores estudos de consumo e comportamento feminino já feitos no Brasil. Quais foram os motivos que levaram a estudar especificamente mulheres?
A Sophia Mind faz parte do Grupo Bolsa de Mulher, o maior grupo de comunicação feminino da América Latina. Estudamos o comportamento e consumo feminino, pois acreditamos que elas possuem o controle da maior parte das decisões de compra. Ou seja, formam o maior grupo consumidor do país. Alguns estudos já mostravam a importância da mulher no mercado consumidor mundial, mas este livro é o primeiro e maior estudo que fala especificamente da mulher brasileira. Um outro motivo é que trabalhamos constantemente com anunciantes que querem falar com mulheres, porém percebemos que muito deles não sabem como fazer ou possuem uma estratégia específica para elas.
É correto dizer que as mulheres são as principais decisoras do processo de compra. Por quê?
É correto afirmar que as mulheres são as principais decisoras do processo de compra. Hoje elas controlam 66% de todo o consumo familiar brasileiro. Em alguns mercados este domínio é muito marcante, como os segmentos de beleza, produtos e serviços para o domicílio e para os filhos. Em outros ainda existe um leve predomínio masculino, como os segmentos ligados à automóvel (principalmente manutenção). É interessante perceber que as mulheres ainda possuem uma renda média inferior ao homem (cerca de 70% da renda média masculina) e mesmo assim decide 66% do consumo. Isso acontece porque elas controlam a renda própria (cada vez maior) e a parte da renda do marido ou família que é destinada aos gastos familiares (alimentação, educação dos filhos, manutenção do lar etc).
O que influencia o processo de compra de uma mulher? Existem estimativas de quanto elas movimento ao ano no Brasil?
Os 66% de controle que as mulheres possuem equivalem a mais de 1,3 trilhões de reais por ano. Esse controle está relacionado aos diversos papéis que a mulher assume ao longo do dia (mãe, esposa, filha, profissional). Em cada um deles, ela possui responsabilidades específicas e as faz muito poderosas no consumo dos mais diversos segmentos de mercado.
Ao longo dos anos, o poder de consumo das mulheres ficou cada vez mais forte. Isso é uma tendência? Haverá ainda mais fortalecimento?
Sim. O consumo feminino tende a crescer ainda mais. Estamos vivendo um momento de transição, em que as mudanças sociais, culturais e econômicas que deram o poder de consumo feminino ainda não terminaram. Em um intervalo de 15 anos (curto) a renda média feminina passou de 32% da renda média masculina para 71%. As mulheres já possuem, em média, mais anos de estudo do que os homens. Isso fará com que a renda feminina continue crescendo nos próximos anos. A consequência no mercado consumidor é imediata e muito intensa. Mercados onde a mulher já possui o domínio, como beleza e moda, irão se beneficiar com o aumento de renda feminina. Assim como mercados onde a mulher está muito insatisfeita (saúde) ou ainda tem participação menor (automotivo).
O que, efetivamente, as mulheres querem? As empresas brasileiras já conseguiram atender a essa demanda?
Algumas empresas conseguiram, mas a grande maioria não. Para atender a demanda e desejos femininos é preciso, primeiramente, entender o que são esses desejos e o que elas realmente querem. Esse é o nosso trabalho. No livro relatamos que 89% das mulheres estão insatisfeitas com algum dos segmentos analisados. É um percentual muito alto. Em alguns deles, por exemplo, nos planos de saúde, não identificamos nenhuma empresa que se destacasse na questão de qualidade, atendimento e, principalmente, tempo (soluções que aliviem as preocupações burocráticas do dia-a-dia). Efetivamente o que elas querem é uma comunicação voltada para elas e que as empresas pensem em produtos e serviços que poupem tempo e as atenda em seus diferentes momentos do dia.
Olhando pelo prisma social, a mulher é a maior agente de transformação da família e da comunidade. Você acredita que as mulheres brasileiras têm uma noção exata do seu poder transformador?
Sim. A mulher, principalmente a mãe, é a pessoa mais preocupada com a família. É quem tenta conciliar todas as situações e resolver o problema de todos. Elas naturalmente possuem o mais importante para serem agentes da transformação que é a vontade e a preocupação de melhorar a vida de seus familiares e comunidade.
Há entre as pesquisas alguma indicação de que mulheres bem sucedidas teriam interesse em apoiar mulheres de baixa renda para essas obtivessem também o sucesso? Por quê?
O livro não entra exatamente neste tema, mas temos outras pesquisas que mostram isso. A preocupação social é muito forte entre as mulheres. Nestas eleições, por exemplo, a preocupação com o social e a educação eram mais importantes do que com questões econômicas. Características como solidariedade, sensibilidade e otimismo são presentes na maioria das mulheres.
Do ponto de vista de doações e investimento social, como as mulheres brasileiras se comportam?
A relação delas com os problemas sociais fazem com que sejam grandes incentivadoras de programas sociais e de responsabilidade ambiental também. Muitas delas que não podem contribuir financeiramente com doações, o fazem involuntariamente quando decidem suas compras por marcas que possuem tais programas. Além do caráter social, muitas empresas estão explorando isso do ponto de vista de marketing.