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Um Brasil antirracista apoia as soluções lideradas por mulheres negras (23/7/2020)
ELAS

O país está vivendo hoje um dos momentos mais difíceis da sua história recente em termos sanitários, sociais e econômicos. A “normalidade” tem sido questionada. Mais do que nunca, há uma exigência de mudança de valores, de quebra dos paradigmas da naturalização das desigualdades e discriminações.

A pandemia de Covid-19 tem mostrado de forma impactante a profundidade da desigualdade social e racial. As pessoas que menos conseguem se proteger e se preservar da doença são a população negra, desempregada, que vive do comércio informal, que mora em regiões sem saneamento básico, sem hospitais, com poucos leitos para tratar qualquer enfermidade. As mulheres negras, responsáveis pelo cuidado dos doentes, dos idosos, das crianças, são aquelas que mais têm se exposto ao contágio para dar suporte mínimo às suas famílias. Uma vez infectadas, são o grupo que mais morre de Covid-19 ou da Síndrome Respiratória Aguda. A maioria não teve sequer acesso ao teste de Covid. As mulheres negras ainda têm que costurar suas máscaras de proteção e de suas famílias pois não há máscaras suficientes ou disponíveis para a população. Elas promovem as ações de solidariedade comunitária nas favelas, arrecadam e distribuem alimentos e materiais básicos de higiene e saúde.
 
A colonização europeia escravista impôs ao país ideias, mentalidades e estruturas tóxicas, as mesmas nas quais está baseada até hoje a sociedade brasileira, gerando e perpetuando cotidianamente todo tipo de violência contra a população negra, explorando sua mão de obra e expropriando seus conhecimentos e cultura.

Os fatos deste ano demostram a brutalidade dessa violência: Jenifer Gomes, 11 anos, baleada em frente à sua casa; Kauan Peixoto, 12 anos, um tiro nas costas e outro no rosto; Kaue dos Santos, 12 anos, baleado na cabeça, Agatha Felix 8 anos, baleada nas costas, dentro de uma van, Kethellen Gomes,  com 5 anos, e Kauã Rozario, com 11 anos, ambos baleados; João Pedro Pinto, 14 anos, baleado dentro de casa e levado por policiais em um helicóptero. Todos têm em comum o fato de serem crianças negras, pobres, morarem em favelas ou bairros sem infraestrutura, filhos de mães negras, que são chefe de família e vítimas das políticas e práticas de Segurança Pública. Além disso, esses casos tendem a ficar absolutamente impunes. Que justiça é essa? Isso é normal? É normal que a polícia, a instituição com a missão de manter a paz e garantir a vida dos cidadãos seja responsável por quase 6 mil mortes por ano? Somente no Rio de Janeiro, mais de 78% das pessoas mortas em ação da polícia em 2019 são pessoas negras e pardas, e desses, 43% são jovens negros. Nada disso é justo ou normal.

O Brasil tem a maior população negra fora da África. Diferente dos EUA, no Brasil a população negra é maioria. Como é possível que nas universidades a maioria dos alunos seja branca? E na política? Nas Casas Legislativas dos municípios, dos Estados e da União? E nos tribunais, regionais ou superiores, como é possível termos tão poucas pessoas negras?
Na iniciativa privada, em grandes empresas e corporações nacionais ou estrangeiras sediadas no Brasil, por que há tão poucos negros e negras entre empresários, membros de comitês de gestão ou de conselhos empresariais? Como é possível termos praticamente só pessoas brancas entre tantos industriais? É normal que brancos tenham melhores empregos, com melhores salários?  E que entre trabalhadores com salários mais baixos ou mesmo em subempregos, a maioria seja negra? É um desperdício do talento, das idéias de tantos brasileiros negros e negras em tantas áreas, que nem é possível dimensionar.

Nossa dinâmica social racista nos mantém subdesenvolvidos e atrasados.

Romper com o racismo nos faz avançar como sociedade. Quando as oportunidades e os direitos são iguais para negros, indígenas e brancos, toda a sociedade cresce, se beneficia e há paz social.

No âmbito individual, como propõe a ativista norte americana negra Angela Davis, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. No âmbito coletivo a proposta é a mesma. É hora de deixarmos de ser uma sociedade racista e nos tornarmos uma sociedade ativamente antirracista.

Este momento que vivemos em 2020 é muito importante. Milhares de pessoas no mundo estão se mobilizando contra o racismo, contra a violência, a exploração e as desigualdades produzidas e justificadas em uma sociedade racista. Nos Estados Unidos, no Brasil e em outros países do mundo, inúmeras manifestações expressam a mensagem “Vidas Negras Importam”, exigem mudança, e rompimento coletivo com práticas racistas e que naturalizam o racismo.

Não se restringem a inspirar a mudança individual de uma pessoa branca, mas mudança coletiva, que ela possa afirmar: na minha família somos todos antirracistas, meus amigos são todos antirracistas, na minha turma de estudos somos todos antirracistas.
O momento exige a adesão e mudanças concretas dos governos, de cada um dos Poderes da República, das instituições públicas. Não basta o brasileiro não ser racista, os governos e o Estado precisam ser antirracistas. A política de educação tem que ser antirracista e promover todo aquele conhecimento que estamos desperdiçando.

Há séculos, as mulheres negras brasileiras se juntam em associações, coletivos e movimentos sociais para resistir à violência racista da nossa sociedade. Elas lideram processos coletivos que visam enfrentar o racismo e superá-lo no âmbito coletivo do estado e das políticas públicas e também, para transformar a mentalidade racista que ecoa em parte da sociedade.
Nos dias atuais, os movimentos de mulheres negras têm ampliado suas alianças com outros movimentos sociais e liderado manifestações como a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver que em 2015 reuniu 50 mil mulheres negras em Brasília e entregou um plano de ações antirracistas para o Governo Brasileiro.

Os movimentos de mulheres negras lideram a luta pela valorização do trabalho doméstico, contra a exploração da mão de obra e trabalho análogo à escravidão; as mães de filhos que foram vítimas do Estado e da violência urbana no país lutam por justiça. Elas lideram ainda propostas de promoção da saúde e combate ao racismo institucional presente em hospitais públicos e outras instituições; promovem ainda políticas que garantam o acesso e permanência de estudantes negros e negras em instituições de ensino e universidades, assim como promovem o acesso da população negra aos cargos da administração pública e aos cargos de representação política.

Os movimentos sociais liderados por mulheres negras atuam pela preservação e direito à terra e territórios tradicionais; lideram iniciativas pela diversidade e tolerância religiosa; assim como de valorização da arte, cultura e da identidade negra brasileira.

Os movimentos de mulheres negras brasileiros integram e fortalecem as lutas pelo respeito às populações LGBTQI+. Elas denunciam violação de direitos humanos e a discriminação de negros e negras. E ainda atuam no campo da comunicação, promovendo campanhas contra o racismo, contra o preconceito, fazem pesquisas sobre as condições socioeconômicas da população negra muito antes de o governo brasileiro adotar alguns indicadores de raça em suas pesquisas, acompanham e monitoram a implementação de políticas públicas universais nos municípios, nos estados e na esfera federal. Produzem análise de dados socioeconômicos da população e disseminam o conhecimento crítico sobre racismo e sexismo no Brasil, sobre a condição da mulher negra dentro de uma sociedade que reparte direitos a partir das dimensões de raça e gênero, e não de forma universal e isonômica.

Desde nossa fundação, há 20 anos, o ELAS acredita que é possível a sociedade brasileira se tornar antirracista e apoiar as ideias e iniciativas de transformação social lideradas por mulheres negras.
 
Neste  25 de julho, Dia da Mulher Negra Latino-americana e do Caribe,  o ELAS lança o edital Mulheres em Movimento 2020 com o objetivo de garantir a sustentabilidade de organizações, grupos e coletivos de mulheres negras, indígenas e LBT, para que elas possam atravessar a pandemia do Covid-19 e continuar sua luta.

Junte-se a nós, seja parte da mudança coletiva, traga sua empresa, instituição, ou grupo.

Ative seu antirracismo.

 
 
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