Alexandra Garita é uma feminista mexicana que trabalha há mais de quinze anos na promoção da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos na América Latina e internacionalmente. Atualmente é diretora adjunta da Prospera - International Network of Women`s Funds, de onde busca influenciar o mundo da filantropia com uma perspectiva feminista.
Alexandra Garita esteve no Rio para a Reunião Anual da Aliança de Fundos de Mulheres Latinoamericanos e conversou conosco sobre a importância da Aliança para a filantropia feminista na região.
Confira a entrevista:
Fundo ELAS: A Prospera é uma rede com 37 membros - 8 deles da América Latina, a região com o maior número de membros. É um número expressivo comparado a outras regiões. Em 2017, como você mencionou em seu discurso no
Seminário Filantropia para a Justiça Social, esses fundos levantaram quase US $ 15 milhões de dólares e apoiaram mais de quinhentos grupos de mulheres. Como você avalia o impacto desses fundos na região?
Alexandra Garita: O enorme crescimento de cada fundo na região nos últimos 5 anos demonstra claramente que há movimentos feministas e organizações que lutam pelos direitos das mulheres vibrantes e sólidos em todo o continente. E também que o trabalho e importância da filantropia feminista são mais amplamente conhecidos. O influxo de doações de fundações privadas, tanto dentro dos países latinoamericanos quanto de organizações filantrópicas baseadas no Norte Global, assim como a mobilização de recursos locais nos países, estão criando conscientização e sensibilização sobre a necessidade de manter e aumentar o apoio ao trabalho das mulheres por direitos humanos em geral - e os fundos de mulheres são o braço financeiro fundamental dos movimentos de mulheres.
Fundo ELAS: O que você destacaria como principais conquistas dos fundos de mulheres da América Latina nos últimos anos?
Alexandra Garita: Fundo ELAS, Semillas e FCAM conseguiram atrair doadores corporativos e mantê-los engajados em questões que antes eram tabus ou difíceis para as empresas se preocuparem e financiarem. Além disso, as grandes quantias advindas de apoios bilaterais para iniciativas como GAGGA (Global Alliance for Green and Gender Action) e Liderando Desde El Sur indicam um novo nível de capacidade administrativa e maturidade organizacional da liderança dos fundos das mulheres para investir e apoiar adequadamente ativistas e organizações de justiça de gênero. Finalmente, o tipo de redes entre doadoras individuais que o Fundo Alquimia criou no Chile e o Fundo Semillas no México são modelos de sucesso de mobilização de recursos locais que são fundamentais para sustentar a filantropia feminista.
Fundo ELAS: Você veio ao Rio de Janeiro para a Reunião Anual dos Fundos Latino-Americanos de Mulheres. O que você destacaria sobre essa reunião?
Alexandra Garita: O que observei nesta reunião foi a união de uma verdadeira aliança e parceria entre os fundos de mulheres da América Latina, que indica um elevado nível de confiança, solidariedade, visão estratégica e complementaridade. Há um claro entusiasmo em desenvolver propostas conjuntas para trabalhar juntas com justiça ambiental e de gênero, bem como compromisso claro e disponibilidade para apoiar uns aos outros em tempos de convulsão política e ameaças à segurança. Finalmente, o projeto focado em mulheres lésbicas poderia aumentar a visibilidade de ativistas lésbicas envolvidas em múltiplos movimentos sociais na região e dar-lhes apoio e força em um momento crítico.