O acesso à cidade não é igual para homens e mulheres. Isso acontece porque as atividades desempenhadas por homens e mulheres são socialmente diferentes: elas são as principais responsáveis pelo trabalho doméstico, pela ida ao mercado, pelo auxílio aos idosos, por buscar e trazer crianças na escola, pelos cuidados com a saúde da família, o que faz com que utilizem mais o transporte público coletivo e se desloquem mais a pé. Além disso, vivenciam assédio e diversas formas de violência nas ruas, sofrendo com mais insegurança do que os homens.
Vivemos em cidades androcêntricas: dos ícones que ilustram as placas e semáforos aos nomes das ruas e praças (o Mapbox mapeou 7 metrópoles mundiais e descobriu que apenas 27,5% dos nomes das ruas são de mulheres), diversos “detalhes” moldam a forma como percebemos o espaço público e o papel das mulheres na história e mostram que as cidades são construídas a partir das necessidades dos homens.
O Fundo ELAS está atento a essas questões e tem buscado discutir o tema e apoiar projetos na área de mobilidade e gênero. No Diálogo Mulheres em Movimento, promovido pelo ELAS, mobilidade foi um dos temas de destaque com os “Diálogos sobre Direitos das Mulheres à cidade, mobilidade e sobre violência”, que contaram com a participação de especialistas e ativistas que têm desenvolvido pesquisas e projetos na área.
“Os planos de mobilidade urbana são feitos com a ideia de que o transporte é neutro. Mas as pessoas que pesquisam essa temática sabem que eles não podem ser neutros, pois os tipos de viagens que são feitos ao longo do dia são diferentes”, explicou Clarisse Linke, do ITDP Brasil, no Diálogo Mulheres em Movimento.
Marielle Franco, especialista em direito à cidade, destacou no debate que as mulheres têm seu direito de transitar na cidade limitado. “É preciso ter o debate sobre se favela é cidade, ou seja, como é ser mulher transexual, mulher lésbica, homossexual, bissexual dentro da favela e como é sua transição na cidade”, disse Marielle. “Vivemos enquanto mulher nessa cidade de uma forma diferenciada, o que demanda respostas diferenciadas que perpassam, por exemplo, a iluminação pública, interesses comuns e estratégicos e o debate da negritude”, acrescentou.
Muitos desses problemas ainda se dão também porque as decisões relativas ao desenvolvimento urbano são tomadas por homens. Precisamos de mais mulheres no planejamento urbano, na arquitetura e no desenvolvimento de políticas públicas para espaço urbano.
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