De 10 a 13 de março o Fundo ELAS promoveu o "Diálogo entre Ativistas: Estratégias e Técnicas de proteção e cuidado em meio às restrições de liberdade". O encontro reuniu representantes de grupos apoiados no Programa de Enfrentamento à Violência contra Mulheres, desenvolvido pelo Fundo ELAS com o apoio da Sigrid Rausing Trust e voltado para o fim da violência contra ativistas. Desde 2014, essa iniciativa já apoiou 32 projetos e promoveu 4 Diálogos nessa temática.
“Atualmente, vivemos uma ofensiva conservadora com a criminalização dos movimentos sociais, a onda religiosa, dogmática e fundamentalista, aumento do racismo, homofobia, lesbofobia, transfobia, e de todo tipo de violência. É estratégico o investimento no autocuidado e na segurança de feministas que atuam em defesa dos direitos das mulheres”, explica KK Verdade, coordenadora executiva do Fundo ELAS.
Participaram do Diálogo 41 ativistas de todo o Brasil, representantes dos 14 grupos apoiados no atual ciclo do programa. São mulheres que vivem o racismo, a lesbofobia, a transfobia e o machismo cotidianamente em suas comunidades; advogadas populares que atuam nos territórios pelo fortalecimento e segurança das mulheres; ativistas que usam a música e a cultura afro-brasileira na luta pelo bem viver das mulheres; programadoras que disseminam técnicas de segurança digital e defesa de privacidade; indígenas, quilombolas e ribeirinhas que enfrentam a luta contra o genocídio de seus povos; mulheres que fortalecem e articulam mães de vítimas da violência do Estado; entre outras.
Juntas, elas discutiram os atuais desafios em seu ativismo e traçaram estratégias de resistência, proteção e cuidado. A programação incluiu debates sobre segurança, autocuidado e conjuntura política, além de oficinas de segurança digital, exercícios de consciência corporal e medicina natural.
Jéssica da Cunha e Tais Rocha, que representaram o Coletivo Tambores de Safo no Diálogo, fizeram uma visita ao Fundo ELAS após o evento e compartilharam conosco suas impressões: “Saio do Diálogo me sentindo fortalecida e articulada. Foi um momento de construção de alianças, tivemos a oportunidade de conhecer outras manas que estão fazendo coisas parecidas. Fora o enorme ganho de incorporar o discurso e a prática do autocuidado em nossas ações”, diz Tais. “Foi uma experiência maravilhosa – eu sabia que ia ser legal, mas imaginava algo muito mais institucional, na verdade foi um momento de trocas muito intensas”, conta Jéssica.
Investimento no autocuidado é estratégico
O Fundo ELAS entende que o autocuidado é uma ação política e considera estratégico o investimento no bem-estar e na segurança das ativistas. São frequentes os casos de violência, criminalização de ativistas, aparecimento de doenças crônicas que têm graves consequências, que incluem o desgaste político e pessoal tanto para as ativistas, como também para os grupos e coletivos dos quais as mulheres fazem parte, fragilizando o movimento feminista.
Dessa forma, o objetivo do Fundo ELAS com esse programa é gerar conhecimento feminista sobre a temática, levantar informações, trocar experiências e boas práticas, documentar casos de violência contra ativistas, fortalecer as ativistas e o movimento feminista para que possam lidar com casos de violência e ao mesmo tempo para que possam incidir politicamente nessa temática, apoiando a mobilização do movimento de mulheres em torno do bem-estar e da segurança das ativistas.