A chef Paola Carosella, argentina radicada no Brasil, é uma cozinheira, empresária e executiva que entende a importância de investir em mulheres e considera fundamental mulheres influentes se posicionarem sobre questões como igualdade e direitos das mulheres.
Paola, que é jurada no programa de TV MasterChef Brasil e dona dos restaurantes Julia Cocina, Arturito e do café La Guapa, conversou com o Fundo ELAS sobre o tema. Guapa, em espanhol, define uma mulher forte, bonita, guerreira e corajosa, exemplo de superação, que não teme dificuldades e vai à luta. "Adoro essa palavra, sua força e atualidade, refletindo o significado de ser mulher hoje e sempre”, diz Paola.
Confira a entrevista:
ELAS: Em entrevistas recentes você falou sobre a dificuldade de ocupar um espaço dominado por homens e outras dificuldades enfrentadas por mulheres, como o assédio no ambiente de trabalho. Você considera importante ser uma figura feminina representativa e com visibilidade midiática no meio, para estimular outras meninas e mulheres a ocuparem esse espaço também?
Paola Carosella: Trabalhar numa cozinha é duro, fisicamente difícil e puxado. A carga horária é longa, trabalha-se aos finais de semanas, aos domingos, aos feriados, e, às vezes, de madrugada ainda estamos trabalhando. Fisicamente é duro para o corpo. Mãos cortadas e queimadas, pernas inchadas são comuns para quem trabalha numa cozinha. Eu construí a minha carreira ao longo de muitos anos e em diferentes ambientes, alguns mais amorosos do que outros. Nos ambientes mais difíceis, tive a sorte de ter maturidade suficiente para entender que deveria manter o foco e ignorar alguns comentários e atitudes.
ELAS: Na ocasião do assédio à participante do MasterChef Júnior, que desencadeou uma série de protestos e campanhas como a #MeuPrimeiroAssedio, você se posicionou e aderiu à campanha. Qual é para você a importância de se posicionar em situações como essa, relativas a questões de gênero?
Paola Carosella: Extremamente importante. É horroroso. Espanta ver que alguém tem a capacidade de dizer aquele tipo de coisa sobre uma menina de 12 anos e existirem pessoas que dão risada e compartilham como se fosse engraçado. É importante deixar claro que não é engraçado, jamais dever ser tratado como uma piada. Pedofilia é crime e, como crime, deve ser punido.
ELAS: O que motivou a campanha #MuitoGuapa, sua iniciativa que homenageou diversas mulheres guerreiras no mês de março de 2016, inclusive Amalia Fischer, coordenadora geral e cofundadora do Fundo ELAS?
Paola Carosella: Tudo sempre me motiva a homenagear mulheres, a homenagear pessoas guapas. Meu café de empanadas chama-se La Guapa. O nome em si é uma homenagem a mulheres guapas, fortes, empreendedoras. Esse empreendedorismo não é necessariamente no sentido comercial, mas sim no sentido de tomar as rédeas da própria vida.
Cada vez mais percebo que o caminho das mulheres ainda não está consolidado, pois ainda precisamos lidar com muitos preconceitos tanto na vida pessoal quanto profissional e é por isso que acredito ser fundamental mulheres influentes se posicionarem sobre questões como igualdade e direitos das mulheres.
ELAS: Você cozinhou em uma escola ocupada por estudantes e tem muitas e muitos fãs jovens. Como é para você ser influente para crianças e adolescentes, e que tipo de ideias e mensagens você gostaria de passar?
Paola Carosella: Para mim, é extremamente importante saber que exerço uma certa influência sobre crianças e adolescentes. Tomo muito cuidado com as mensagens que tento passar, pois não quero ser mal-interpretada. Tenho esse cuidado e, ao mesmo tempo, sou autêntica, sou eu mesma. Tento passar valores que considero importantes como a honestidade, o respeito, sobretudo o respeito. Nesta era de redes sociais, onde pode ser dito de tudo sem nenhum tipo de filtro, acho que ter respeito, saber se posicionar de maneira educada e respeitosa perante o outro é fundamental.
Carrego a "fama" com enorme responsabilidade. Me sinto em dívida com as pessoas que me colocaram nessa condição de “famosa”.
Foto: Jason Lowe