O ELAS nas Exatas é uma parceria inédita do Fundo ELAS XX com o Instituto Unibanco e a Fundação Carlos Chagas que tem o objetivo de contribuir para a redução do impacto das desigualdades de gênero nas escolhas profissionais e no acesso à educação superior das estudantes.
É o primeiro concurso do Fundo ELAS voltado para alunas de Ensino Médio, que está apoiando iniciativas desenvolvidas em escolas de todo o país. Com ele, o Fundo ELAS expande sua atuação para um espaço estratégico na promoção da equidade e da transformação: o ambiente escolar.
Conversamos com Denise Hirao, do Instituto Unibanco, sobre essa parceria e o investimento da instituição na equidade de gênero e raça na educação. Atualmente responsável pela área de Fomento do Instituto Unibanco, Denise Hirao é especialista em direitos humanos e direitos das mulheres, com trajetória no Brasil e nos Estados Unidos. Nos últimos 10 anos, vem atuando junto a instituições que financiam a sociedade civil no campo de direitos das mulheres, educação e saúde na América Latina.
Confira a entrevista:
O Instituto Unibanco atua para a melhoria da educação pública, especialmente do Ensino Médio, ampliando as oportunidades educacionais dos jovens em busca de uma sociedade mais justa e transformadora. O que os levou a trabalhar no programa Gestão Escolar para a Equidade com as questões de raça (através do edital em parceria com Fundo Baobá para Equidade de Raça) e de gênero (com o ELAS nas Exatas, parceria com o Fundo ELAS e a Fundação Carlos Chagas)?
A desigualdade entre negros e brancos na educação é revelada por diversos estudos, os quais também indicam que a melhoria da escola não necessariamente está vinculada à diminuição dessa desigualdade. Embora o desempenho de negros e brancos possa aumentar, a distância entre eles não diminui. Em relação às jovens, muitos entendem que o Brasil não apresenta desigualdade de gênero na educação já que o acesso é igualitário para meninas e meninos. No entanto, o desempenho das meninas em Matemática, em particular no Ensino Médio, é significativamente menor do que os meninos. Na educação superior, essa desigualdade é perceptível na presença diminuta de mulheres jovens nos cursos de exatas, como Engenharia, Física e outros. Essas desigualdades de gênero e raça não são naturais. Elas são culturais e devem ser revertidas para que todos os estudantes, independentemente de sua raça ou gênero, recebam uma educação de qualidade.
Com a retirada do termo "gênero" do Plano Nacional de Educação (PNE) e de Planos Estaduais e Municipais, e com o avanço de discursos conservadores no ambiente escolar, estamos vivendo um contexto de retrocessos e ameaças no que se refere à construção da equidade de gênero e da diversidade nas escolas. Como você avalia esse momento? De que maneira iniciativas como o ELAS nas Exatas podem contribuir nesse contexto?
É importante esclarecer esse assunto a partir de uma análise jurídica. A lei que aprova o PNE não proíbe a atuação da escola em prol da equidade de gênero. Muito pelo contrário. O PNE estabelece expressamente em seu artigo 2º: “São diretrizes do PNE: III – superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação.” A desigualdade entre meninos e meninas no aprendizado de Ciências Exatas e Naturais é uma desigualdade educacional e, portanto, deve ser enfrentada. Essa é a previsão tanto do PNE como da própria Constituição Federal.
Esperamos que o Elas nas Exatas traga respostas para o problema do baixo envolvimento das meninas nas Ciências Naturais e Exatas. A partir da avaliação criteriosa da Fundação Carlos Chagas, esperamos aprender com essa variedade de projetos práticos nas escolas, gerando insumos para inspirar ações em outras escolas.
- Temos observado o crescimento de coletivos feministas em escolas de todo o Brasil, assim como de grupos de mulheres de áreas das ciências e tecnologias que discutem a presença feminina e sua representatividade nessas áreas. Como podemos potencializar esse movimento e fazer com que a gestão escolar assuma essas questões de desigualdades?
Em primeiro lugar, as desigualdades entre estudantes devem ser conhecidas pela gestão da escola para que seja possível criar mecanismos para enfrenta-las. Os coletivos feministas podem ser grandes parceiros da gestão nesse desafio pois asseguram a participação das estudantes, o que é fundamental para trazer à luz as desigualdades por elas vividas assim como para contribuir no desenvolvimento soluções de superação. Além disso, como o tema das mulheres nas ciências e tecnologias é relativamente novo no Brasil, é importante potencializar os espaços de intercâmbio, como aqueles que estão sendo criados a partir desta parceria ELAS nas Exatas.
- O ELAS nas Exatas recebeu 173 propostas de 24 estados brasileiros. Expressivo, o número de inscrições demonstra a relevância do tema e o interesse na realização de projetos que incrementem a discussão sobre gênero na educação pública. Quais são as perspectivas do Instituto Unibanco nesse sentido?
Para o Instituto Unibanco, o número de inscrições foi, de fato, um indicativo do elevado interesse no tema. Também confirmou nossa aposta de que encontraríamos uma pluralidade de soluções empíricas para enfrentar o problema da desigualdade entre meninas e meninos nas Ciências Naturais e Exatas. Nossa expectativa é aprofundar a análise dessas soluções para gerarmos insumos que possam ser utilizados em escala. Além disso, também esperamos gerar conhecimento a partir de outra parceria com a Fundação Carlos Chagas, que está conduzindo um estudo qualitativo em algumas escolas com baixo e com alto desempenho das estudantes em Ciências Exatas e Naturais.