Nos dias 27 e 28 de junho, o II Diálogo ELAS nas Exatas reuniu mais de 40 educadoras, ativistas, estudantes e especialistas no Rio de Janeiro para discutir as desigualdades de gênero e raça na educação.
O objetivo do encontro foi fortalecer os 10 projetos selecionados no ELAS nas Exatas, XX Concurso de Projetos do Fundo ELAS, lançado em parceria com o Instituto Unibanco e a Fundação Carlos Chagas para contribuir para uma maior inserção de meninas em carreiras nas ciências exatas e naturais, ampliando seu repertório de escolhas profissionais e de projetos de vida.
Participaram do evento cerca de 30 representantes dos 10 projetos apoiados pelo ELAS nas Exatas e 13 convidadas para debater o tema, além de representantes do Fundo ELAS, do Instituto Unibanco e da Fundação Carlos Chagas.
Na manhã do primeiro dia, Amalia Fischer, coordenadora geral e cofundadora do Fundo ELAS, Amalia Fischer, abriu o encontro destacando que "a escola é um lugar fundamental para a transformação social". "O ELAS nas Exatas é uma iniciativa tripartite e inovadora construída a partir da lógica da cocriação. O Fundo ELAS, o Instituto Unibanco e a Fundação Chagas estão juntos para fazer avançar os direitos das meninas no campo da educação", disse Amalia.
Denise Hirao, do Instituto Unibanco, afirmou que "as diferenças de gênero são culturalmente construídas e, sendo assim, podem ser culturalmente destruídas; é nisso que a gente acredita e no que nos baseamos com o ELAS nas Exatas".
Thais Gava, da Fundação Carlos Chagas, disse que o assunto precisa ser debatido e deve haver luta para que vire temática de políticas públicas. "Queremos que isso reverbere e seja debatido em outros espaços também", acrescentou.
Programação intensa de debates sobre gênero, educação e ciências
No dia 27, aconteceu a mesa “Desigualdades de Gênero”, com a participação de Jacira Melo (Instituto Patrícia Galvão), Maria Lúcia Silva (Instituto AMMA Psiquê), Monique Eleotério (CAMTRA) e Larissa Santiago (Blogueiras Negras). Foi uma oportunidade de troca das estudantes, gestoras/es e professoras/es com ativistas feministas e estudiosas das relações de gênero e raça.
Jacira Melo, da Agência Patrícia Galvão, destacou que "nenhum comportamento humano pode ser considerado natural". "Apesar de estarem estudando mais, terem entrado no mercado de trabalho, as mulheres ainda ganham menos do que os homens, porque ainda se entende que o trabalho da mulher é complementar para a renda da família - quando, na verdade, já deixou de sê-lo há mais de 30 anos!", disse Jacira.
Já Maria Lúcia da Silva, do Instituto AMMA Psiqué e Negritude, lembrou que falar de mulheres nas ciências é também falar de representatividade e de autoestima: "Para que uma mulher negra se veja como uma física, por exemplo, é preciso toda uma reorganização de si", explicou a psicóloga.
"É preciso um grande investimento no emocional para que se conquiste essa possibilidade de as mulheres se verem para além dos modelos que aprendemos desde que nascemos", disse Maria Lucia.
Logo depois as convidadas Rosana Heringer (Presidente do Conselho do Fundo ELAS e Professora da UFRJ), Denise Carreira (Ação Educativa), Giovana Xavier (Professora UFRJ), Giovana Hau de Carvalho (Coletivo ¾) e Maria Julia Gouveia (Instituto Unibanco) provocaram um debate sobre gênero nas escolas.
"As forças conservadoras saíram do armário e a escola tem sido um espaço muito atingido. Precisamos mais do que nunca falar de gênero na escola, estar presentes com um discurso que se contrapõe a essa visão conservadora", alertou Rosana Heringer, vice diretora da Faculdade de Educação da UFRJ e presidenta do Conselho do Fundo ELAS.
No dia 28, a mesa “ELAS nas Ciências” reuniu as físicas Marcia Barbosa (Professora e pesquisadora da UFRGS), Katemari Rosa (Professora e pesquisadora da UFCG) e Sonia Guimarães (ITA) e a bioquímica Debora Foguel (UFRJ e Academia Brasileira de Ciências), que compartilharam suas trajetórias profissionais e desafios enfrentados em suas carreiras.
"Quando se trata de mulheres e ciências, uma questão que sempre aparece é a de como conciliar carreira e família. A licença-maternidade para bolsistas da Capes e do CNPq foi uma grande conquista nesse sentido", contou a física Márcia Barbosa, professora e pesquisadora da UFRGS.
Katemari Rosa falou também da importância de fazermos uma crítica ao produzirmos conhecimento: "Que ciência é essa que queremos fazer? Devemos sempre nos perguntar: quem está sendo marginalizado pela tecnologia ou pesquisa que estou produzindo? Minha pesquisa está levando com consideração como pode impactar homens, mulheres, pessoas negras, indígenas e brancas de forma diferente?"
A estudante Giovana Hau, de 18 anos, falou de sua experiência junto ao coletivo Feminismo de 3/4, de alunas do Colégio Pedro II: "Estudei na unidade do Pedro II em Engenho Novo, e alunas da unidade de Niterói nos apresentaram o coletivo, que tinha nascido lá. No começo, não teve muito apelo entre as meninas, mas, aos poucos, foi ganhando força. Não sem encontrar resistência: até hoje, cartazes feitos por integrantes do coletivo são retirados, pichados ou alterados com brincadeirinhas dos alunos", revela. Para ela, uma grande função da ação foi fazer as estudantes entenderem o movimento feminista. "Tinha várias coisas que eu já pensava, mas que eu não sabia que era feminismo que, na minha visão, tinha a ver apenas com as mulheres terem conquistado o direito ao voto e de trabalhar, como os homens."
Fôlego renovado para seguir com os projetos
Todos os grupos do ELAS nas Exatas saíram do Diálogo com a certeza de missão cumprida, depois de trocarem experiências e discutirem novas soluções para seus projetos com as convidadas e com outros grupos.
“A metodologia dos encontros do Fundo ELAS é reconhecida e comprovada como uma boa prática para aumentar os resultados e impacto dos projetos. Além de permitirem que os grupos se aproximem, conheçam as outras iniciativas apoiadas e criem estratégias conjuntas, os encontros de fortalecimento são momentos de formação”, explica KK Verdade.
Todas e todos voltam para suas organizações e grupos com fôlego renovado para lutar e construir a equidade de gênero nas escolas de todo o Brasil.