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De jovens feministas a jovens feministas: o ciclo de apoio da FRIDA, em 2015 (18/4/2016)
Alexandra Martins, Ariana Silva, Leticia Alves Maione e Lucia Martelotte

O que um projeto ou iniciativa pode trazer para melhor trabalhar a realidade das mulheres jovens e retratar os movimentos feministas no Brasil - uma sociedade com tanta desigualdade de gênero, raça, classe, idade e sexualidade? O que é a perspectiva feminista? Qual é a participação das mulheres jovens nos grupos e coletivas? De que forma se entrelaçam o feminismo, a juventude e os demais movimentos sociais? Essas foram algumas perguntas feitas esse ano ao recebermos cerca de 130 propostas do Brasil para o edital da Frida. 
 
Com a retirada da cooperação internacional do Brasil, muitas dinâmicas de trabalho estão sendo repensadas pelas organizações feministas. Além disso, vivemos em um contexto de crescente participação de mulheres jovens no feminismo, onde temos apresentado ao movimento demandas e respostas sobre a mobilização de recursos para as ações de transformação social feminista. Por um lado, as formas de exercitar a auto-sustentabilidade são sempre mais utilizadas para enfrentar a falta de recursos financeiros. Por outro, dessa maneira também se busca solucionar o controle das fontes de recursos nas mãos de pessoas mais velhas sobre pessoas mais novas, como resultado do adultocentrismo. 
 
Neste contexto, o trabalho da FRIDA é importante para consolidar o papel das jovens feministas, e também é único, já que a tomada das decisões é feita a partir de um processo transparente, participativo e horizontal, do qual os grupos solicitantes fazem parte. Atualmente, no Brasil, vivemos uma ascensão conservadora que tem procurado não apenas enfrentar os movimentos sociais, como ainda criminalizar seus instrumentos de denúncia, reivindicação e mobilização. Recentemente, tivemos a retirada do termo “gênero” de planos municipais, estaduais e nacional de educação, além da aprovaçao de projetos de lei que desrespeitam os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e a aprovação da redução da maioridade penal de dezoito para dezesseis anos – derrotas imensuráveis e que vem na contramão de reivindicações históricas para se avançar no combate ao machismo, racismo, lesbofobia, transfobia e adultocentrismo.  
 
Diante desta conjuntura, é importante ressaltar a importância da diversidade de enfoques e assuntos das propostas apresentadas para o edital da Frida ao abranger problemas tão diversos como a violência contra as mulheres, a falta de acesso a direitos sexuais e reprodutivos, a participação política das mulheres até a injusta divisão das tarefas de cuidado.  
 
A diversidade temática e as distintas estratégias de diálogo com as mulheres das diversas regiões do país foi um ponto forte durante todo processo dos projetos inscritos: jovens mulheres trans feministas, coletivas que propõem a junção de mulheres jovens + tecnologia; coletivas de quadrinhos, zines, blocos de carnaval, tambores e artivistas de um modo geral; coletivas de jovens feministas indígenas e jovens feministas negras, que articulam a tecnologia com a tradição através da oralidade, da dança e da música. Todas nos mostraram que a militância caminha para uma estratégia de luta mais ativa e, ao mesmo tempo, criativa. Inclusive, perpassando as regiões do centro e fazendo com que as regiões do interior acessem esses dispositivos e criem suas próprias redes como soluções de jovens feministas para questões enraizadas na sociedade pelo patriarcado, há muito tempo atrás.
 
A arte, a formação política e a aliança entre os movimentos sociais são sempre mais percebidos e colocados pelas jovens feministas, de maneira entrelaçada e sem hierarquia. Uma perspectiva interseccional que não isole as diferentes identidades e opressões também é uma preocupação que esteve nesse ciclo de inscrições de projetos. As formas de trabalhar o feminismo, com diversas linguagens na hora de propo-lo nos parece não algo somente a ser observado, senão que cada vez mais valorizado. As práticas compartilhadas por essas coletivas não apenas orientam as pautas políticas, mas, antes de tudo, transformam as relações institucionais, pessoais e cotidianas. Somos muitas e o feminismo a partir de uma perspectiva geracional propõe avançar também nesse sentido. 
 
Respeitar os processos de decisão coletiva e transparente nos atravessou enquanto método na hora de analisar os grupos mais votados junto aos demais critérios do edital, bem como aterrizar na realidade feminista em nossos contextos, pelo Brasil. Nesta ocasião, Frida recebeu mais de cem propostas do Brasil, o que demonstra o interesse e potencial dos grupos de jovens feministas, ao mesmo tempo que dialoga com as poucas alternativas de financiamento existentes. Sem dúvida, é somente um passo na reflexão que podemos fazer sobre o apoio aos movimentos de jovens feministas no Brasil, em sua diversidade, e desafios de um território e realidade tão extenso e complexo. 
 
Ao final de todo o processo, aprendemos entre nós (membras da Frida no Brasil), mas também aprendemos com cada projeto e leitura que a militância política deve guardar consigo no ato de resistir, de inventar uma nova resistência e de criar linhas de fuga que abram brechas nas territorialidades fechadas e dominadas. Uma forma de olhar para nossas pares, para o nosso tempo, nossos territórios, nossa ancestralidade e perceber no cotidiano corriqueiro outros corpos e ligar os pontos de uma constelação.
 
Texto de  Alexandra Martins, Ariana Silva, Leticia Alves Maione e Lucia Martelotte, Assessoras FRIDA pela América Latina e Caribe
 
FRIDA é um fundo liderado pela juventude focado, exclusivamente, em apoiar globalmente o ativismo de jovens feministas. Saiba mais.
 
 
 
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