Marcha das Mulheres Negras terá primeira edição nacional em 2015 (3/2/2015) Elas
Marcha das Mulheres Negras
terá primeira edição nacional em 2015
Agendada para o dia 18 de novembro de 2015, a Marcha das Mulheres Negras se posiciona Contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver.
As mulheres negras representam 25% da população brasileira, somam 49 milhões de pessoas e enfrentam cotidianamente os problemas de uma sociedade onde ainda imperam muitos elementos de um regime escravocrata e patriarcal.
Entre os maiores problemas enfrentados pelo grupo social estão questões como a da violência, o do acesso à saúde de qualidade e da liberdade e respeito ao culto de divindades de matriz africana. Segundo Angela Gomes, uma das integrantes do comitê organizador da Marcha, 70% das mulheres negras morrem dentro do espaço doméstico e isto é ignorado pelos dados oficiais.
"Não estamos reivindicando só a vida dos negros. Nós, mulheres negras, estamos reivindicando nosso projeto de vida, a gente tem um projeto de vida que não é esse projeto que está colocado ali", diz Angela. Ela acrescenta que foi a população negra que teve papel fundamental na construção do Brasil. "Há 300 anos não temos reparação da nossa história. Ao contrário, mulheres negras ganham 48% do salário das mulheres brancas na mesma função", comparou.
E não é só aí que residem as diferenças. A taxa de mortalidade materna não cai no mesmo ritmo dos números das mulheres brancas; os casos de violência contra a mulher não são, em geral, apurados; a inserção no mercado de trabalho ainda está muito vinculada aos serviços domésticos; entre outras. A marcha vai marcar posição sobre estes e outros pontos tais como a titulação e garantia das terras quilombolas; o fim das revistas vexatórias em presídios e as agressões sumárias às mulheres negras em casas de detenções; a investigação de todos os casos de violência doméstica e assassinatos de mulheres negras, com a punição dos culpados.
Lúcia Xavier, coordenadora da Organização Não-Governamental (ONG) Criola e integrante da Articulação de ONGs de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) afirma que um avanço já foi conquistado: a implantação, nos últimos anos, de políticas públicas voltadas à população negra. Porém, agora é o momento de fazer com que isto chegue a todos. “Já temos conselhos, leis e mecanismos dentro do Estado, agora queremos mostrar tudo isso e seguir com nossas pautas de reivindicação junto à sociedade como um todo”, expôs.
Para Lúcia, ainda são muitos os elementos na estrutura social do país que remontam a um regime escravocrata e patriarcal. “Infelizmente, ainda agora, mulher negra e doméstica são quase sinônimos. Só a conquista de direitos dessas pessoas, que apenas recentemente passaram a ser vistas como trabalhadoras que de fato são, conseguirá distanciá-las da imagem preconceituosa das antigas mucamas que ainda existe por aí”, indicou.
A expectativa das organizadoras da Marcha é congregar cerca de 100 mil militantes da luta contra o racismo, cobrando a consolidação das políticas públicas voltadas ao povo negro que foram conquistadas ao longo dos últimos anos.
Estamos em Marcha:
§ pelo fim do feminicídio de mulheres negras e pela visibilidade e garantia de nossas vidas;
§ pela investigação de todos os casos de violência doméstica e assassinatos de mulheres negras, com a penalização dos culpados;
§ pelo fim do racismo e sexismo produzidos nos veículos de comunicação promovendo a violência simbólica e física contra as mulheres negras;
§ pelo fim dos critérios e práticas racistas e sexistas no ambiente de trabalho;
§ pelo fim das revistas vexatórias em presídios e as agressões sumárias às mulheres negras em casas de detenções;
§ pela garantia de atendimento e acesso à saúde de qualidade às mulheres negras e pela penalização de discriminação racial e sexual nos atendimentos dos serviços públicos;
§ pela titulação e garantia das terras quilombolas, especialmente em nome das mulheres negras, pois é de onde tiramos o nosso sustento e mantemo-nos ligadas à ancestralidade;
§ pelo fim do desrespeito religioso e pela garantia da reprodução cultural de nossas práticas ancestrais de matriz africana;
§ pela nossa participação efetiva na vida pública.